quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PILARES DO AIKIDO


1 – Shiho – Universalidade

O Significado literal de “shiho” é “quatro direções”. Estas quatro direções simbolizam as quatro gratidões:

Gratidão para como Universo e a Vida:
Gratidão para com os nossos ancestrais e predecessores
Gratidão para com o próximo;
Gratidão para com as plantas e animais que se sacrificam por nós;
Significa olhar para o mundo sob todos os seus aspectos, considerar as coisas por todos os ângulos, ser capaz de se mover em todos os sentidos e lidar com ataques de todas as direções.

2 – Irimi – “Avançar e unir-se”

Quando confrontado com uma agressão no Aikido, não se recua nem se desvia a agressão mas entra-se diretamente no centro do ataque.Geralmente a melhor forma de lidar com qualquer oposição é ir diretamente à sua fonte e “harmonizar-se com ela” por forma a tornar qualquer agressão impossível.

3 – Kaiten – “Abrir e Girar”

Algumas vezes é melhor evitar um ataque abrindo-se para o lado e em seguida redirecionar o ataque em direção ao agressor. Abrir e girar significa igualmente estar aberto a todas as possibilidades.

4 – Kokyu – “poder da respiração e da boa coordenação”

A respiração é vida.Tudo no céu e na terra respira. A respiração é o fio que une as criaturas entre si. Quando as inúmeras variações da respiração universal podem ser sentidas nascem as técnicas de Aikido.Outro significado de Kokyu é “boa coordenação”. Implica o entendimento dos ritmos da vida, estar em sintonia com o ambiente e adaptar-se às circunstâncias.

5 – Osae – “controle de si mesmo e controle da situação”

As técnicas de Aikido incluem várias imobilizações e chaves usadas para controlar um ataque.A implicação por detrás de tais chaves e imobilizações é “manter o assunto sob controle” ou “controlar as coisas antes que comecem a surgir” ou seja, evitar que algo de incontrolável aconteça. O’ Sensei dizia: “Detenhas as coisas entes que elas surjam, cultive a paz e a ordem para reprimir o caos”.

6 – Ushiro Waza – “lidando com o desconhecido”

No Aikido treinamos ser atacados por trás com a finalidade de cultivarmos um sexto sentido que perceba a agressão antes que ela ocorra. No nosso dia a dia isso traduz-se na idéia de “esperar o inesperado”, especialmente vindo daquelas almas mal-intencionadas que tentam “apunhalar-nos” nas costas ou atacar-nos quando não estamos atentos.

7 – Tenchi – “Permanecer firmemente entre o céu e a terra”

O’ Sensei dizia:“Tente sempre manter-se em comunhão com o céu e com a terra, assim o Universo surgirá na sua luz verdadeira. Se conseguir perceber a verdadeira forma do céu (vazio) e da terra (matéria) enquanto ser humano (céu e terra = vazio e matéria) será iluminado na sua própria forma.

8 – Ukemi – “sete vezes para baixo, oito vezes para cima”

Saber cair corretamente nas projeções bruscas do Aikido é uma das primeiras coisas que são ensinadas e que devem ser aprendidas. No Aikido aprende-se a cair bem e em segurança e a levantar-se rapidamente. As mudanças constantes da vida tentarão derrubar-nos com ataques fulminantes, mas precisamos saber voltar logo ao normal. Ukemi significa igualmente “corrigir um erro”.“ A falha é a chave para o sucesso, cada erro ensina-nos uma lição preciosa” Sete vezes para baixo e oito vezes para cima.Ukemi é também uma demonstração de humildade e uma prostração: não há orgulho em se ter sido projetado, no entanto existe a vontade de se voltar a tentar ao levantar-se novamente.

9 – Aiki Ken e Aiki Jo – “O Sabre e o bastão. As armas da resolução e da intuição”

No Aikido estão incorporados o estudo do sabre (kenjutsu) e do bastão (jojutsu). Relembrando-nos que o Aikido é um Budo e que as suas técnicas serviram os guerreiros (bushi) do Japão feudal nos campos de batalha e que por isso se devem continuar a estudar as formas que estão na gênese de uma tão eficiente arte marcial.

10 – Reigi - “Um homem educado é um homem atento”.

No Aikido estão incorporados princípios extraordinários de respeito e consideração para com os mestres e parceiros. Estamos a falar numa arte marcial que decide sobre a vida e a morte num só golpe. O respeito é o garante de um treino marcial e cuidado. Por isso no Aikido respeitam-se os princípios tradicionais da etiqueta japonesa, o que aumenta a marcialidade. Conservam-se, entre outras coisas, o andar de joelhos (shikko), a posição tradicional de sentar (seiza), o uso de hakama (calças largas pretas usadas como símbolo da classe guerreira e dominante do Japão feudal – os samurai), a meditação (mokuso) e a limpeza quer do dojo (osoji), quer de si próprio (chinkon). Sem a etiqueta tradicional o Aikido perde o seu valor como veículo para se entender a sociedade e servi-la.No Aikido não há competição. Isto quer dizer apenas que no Aikido as técnicas não foram transformadas para poderem ser usadas dentro de um ringue, ou de um tatame olímpico. As técnicas de Aikido visam subjugar um ou vários adversários armados ou desarmados e por isso são treinadas exatamente com se fossem para ser utilizadas no campo de batalha.

sábado, 3 de outubro de 2009

A PRÀTICA DO SEIZA



SEIZA é um método de sentar, o qual, em alguns lugares, é usado como psicoterapia. SEIZA é um modo de sentar sobre os joelhos que é usado extensivamente na arte marcial do IAIDO, bem como no AIKIDO. A prática de SEIZA pode envolver estas artes, ou pode ser feita simplesmente como um "exercício sentado".

"Sentar calmamente" usando a postura de SEIZA é uma maneira de superar os temores generalizados da vida e o medo subjacente da morte. É um excelente meio de regular as funções do corpo. Pode trazer a mente mais perto do mundo "como ele é", numa atitude mais apropriada que seu foco habitual em "como ele deveria ser". Em outras palavras, SEIZA é um método de passar através das ilusões da vida diária. Quando sentado, os círculos sem fim de pensamento, tão danosos à saúde mental, são rompidos e o claro frescor do simples viver no mundo é por fim liberado para aflorar.

Sente-se em SEIZA dobrando suas pernas e apoiando seu joelho esquerdo no chão. Coloque o joelho direito a uma distância de cerca de dois punhos do esquerdo. Em seguida estique os dedos do pé e posicione-os sobre o chão de modo que os dedões apenas toquem um no outro. Abaixe as nádegas de modo que elas repousem sobre ou entre os calcanhares.

Deixe a coluna ereta e a parte inferior das costas para frente de modo que se forme uma curva em S na espinha dorsal. Arredondar a parte inferior das costas ou tentar inclinar-se causará fadiga muscular. O peso do corpo deve ser centrado num ponto ente o topo dos pés e os joelhos, mais na direção dos pés.

A cabeça deve repousar solta no topo da espinha. As orelhas devem estar em linha com os ombros e o nariz em linha com o umbigo. Note que pondo o nariz nessa posição você move suas costas levemente para fora da posição vertical. No IAIDO isto é importante porque encoraja a pressão para a fronte. Empurre o queixo levemente e estique a base do pescoço. Isto resulta como se alguém o puxasse pelo cabelo para alongar sua espinha. Para encontrar essa linha central você pode balançar em círculos sobre as costas, parando suavemente até atingir uma posição de equilíbrio. Este centro é importante para prevenir cãimbras ou fadiga enquanto está sentado

APLICANDO O PRINCÌPIO DA ESPADA NO AIKIDO E NA VIDA


O Caminho do aiki e o Caminho da espada estão intimamente conectados nos seus princípios, movimentos e métodos básicos. Superficialmente, os dois parecem ser radicalmente diferentes, porque o aikidô é uma arte marcial de mãos vazias, enquanto que a arte de manejar a espada faz uso de uma arma. Mas uma vez penetrada a superfície, muitos pontos em comum serão notados. (A referência aqui é ao kenjutsu, a arte de manejar a espada combativamente, mais do que ao kendô, que é um esporte moderno. A similaridade com o aikidô se encontra não tanto no kendô, mas no seu predecessor.) Uma suposição comum é a de que o aikidô está mais intimamente relacionado ao judô que a arte de manejar a espada. Isso é compreensível porque ambas são formas de arte marcial de mãos vazias, e se uma pessoa conhecer mesmo que só um pouco a respeito da experiência do Fundador, ela ficará consciente do papel de formação desempenhado pelo jiu-jitsu no desenvolvimento do aikidô. O Fundador treinou o jiu-jitsu na escola Dai-to, incorporou alguns de seus métodos ao aikidô e algumas técnicas tais como preensão de pulso, golpes, arremessos e imobilizações foram modelados em conformidade com o jiu-jitsu clássico ou com a sua forma moderna, o judô.

Mas as similaridades são obscurecidas pelas diferenças. No aikidô, por exemplo, não há equivalentes de agarrar a manga ou colarinho do oponente como se vê no judô. Por não haver luta corpo-a-corpo direta nem competição, o aikidô não tem técnicas ofensivas. Também não tem o mesmo tipo de técnicas de chão, por meio das quais o oponente é imobilizado através de chaves ou preensão de pescoço.

Dentre as muitas similaridades entre o aikidô e a arte de manejar a espada estão algumas fundamentais: a postura em pé, a distância entre duas pessoas, a colocação dos olhos, o movimento dos pés, assim como as técnicas derivadas, que são surpreendentemente paralelas, se não idênticas. enquanto a roupa do judô é usada de forma folgada devido à luta corpo-a-corpo, tanto no aikidô quanto na arte de manejar a espada, a roupa tradicional é o hakama, a longa roupa formal dos japoneses que se assemelha a uma saia, apropriada ao movimento livre do duas pessoas que se deparam frente a frente. (Kendo também usa o hakama, mas junto com uma variedade de equipamentos protetores. No aikidô os novatos normalmente não usam hakama.) Por outro lado, uma comparação detalhada entre o aikidô e a arte da espada revelará pequenas diferenças, Um exemplo é a posição de distanciamento (ma-ai). na arte da espada, o espaço correto entre duas pessoas é estabelecido quando as extremidades das duas espadas frente a frente se sobrepõem levemente, de forma que um passo adiante significa um golpe letal contra o oponente. No aikidô, quando duas pessoas fazem frente uma à outra na posição de hanmi, as mãos, equivalentes ao gume da espada, não se tocam, e o espaço é ajustado para a eficiência máxima na execução da técnica de entrada (irimi). Além disso, ao usar a espada, independentemente de quão alta ou baixa é segurada, o princípio básico para determinar a distância é o mesmo. No aikidô ela irá variar, dependendo da técnica: seja se ambos os parceiros estão sentados, um parceiro em pé e outro sentado, ou ambos em pé; um contra muitos; ou um contra alguém armado.

A esse respeito, não podemos estabelecer uma equivalência precisa entre o aikidô e a arte de manejar a espada, mas, como citamos anteriormente, os princípios, movimentos e métodos básicos de ambos têm muito em comum. As similaridades não surgiram por acaso, já que o Fundador Ueshiba claramente pretendia, desde o início, utilizar as vantagens encontradas na arte de manejar a espada, e dedicou tempo e energia consideráveis para incorporá-las ao aikidô.

Desde muito jovem, o Fundador teve um forte interesse pela arte da espada. De fato, entes de ocupar-se completamente com o jiu-jitsu da escola Daito, dedicou-se à mestria da arte de manejar a espada. Mesmo depois de estabelecer o aikidô como uma forma independente de budô, ele adorava praticar com a espada e o bokuto (espada de madeira). Houve uma época em que uma seção de kendô foi estabelecida no Dojô Kobukan, e, entre 1936 e 1940, muitos membros dirigentes da Yushinkan, inclusive Kiyoshi Nakakura, Jun’ichi Haga, Gorozo Nakajima e outros, freqüentaram nosso dojô. Na minha juventude, o Fundador convenceu-me a aprender a arte da espada no estilo Kashima Shinto, o que mostra, também, sua profunda ligação e o alto respeito por aquela arte. Talvez, ao buscar ativamente incorporar certos princípios da arte de manejar a espada ao aikidô, ele estivesse tentando desenvolver uma base teórica para o aikidô que estava, então, ainda na sua infância.

O aikidô não usa arma e é fundamentalmente uma arte marcial de mãos vazias, mas a mão, por exemplo, não é somente uma extensão do corpo. Chamada de mão-espada (te-gatana), torna-se uma arma de golpe, transformando-se numa espada. E quando a mão é usada como uma espada, o movimento naturalmente segue aquele de um espadachim. Esse é um exemplo de um movimento do aikidô como sendo uma manifestação concreta de um princípio da arte de manejar a espada.

Um exemplo clássico dessa manifestação é o shiho-nage. O princípio dessa técnica é modelada à maneira básica de manusear a espada. Estando com o pé esquerdo ou direito como eixo, a espada é empunhada de forma a cortar em quatro, oito ou dezesseis direções. Usando as técnicas básicas do aikidô como entrada e rotação esférica, a mão-espada é usada para arremessar as pessoas em quatro, oito ou dezesseis direções.

Essa técnica tem infinitas variações, de acordo com a situação e a necessidade. Quando o ataque é um golpe vindo do lado direito ou esquerdo do oponente, a resposta é um shiho-nage para contra golpeá-lo. Se o ataque é segurar ambos os pulsos por trás, executa-se o shiho-nage dessa posição. E se um atacante prende os ombros de uma pessoa sentada, esta se defende com shiho-nage. Seja qual for a situação, shiho-nage segue essencialmente o mesmo padrão. No primeiro estágio, a estabilidade do oponente é abalada pela entrada e rotação esférica. No segundo estágio, o oponente é puxado para dentro do círculo de movimento da própria pessoa. No estágio final, a mão direita ou esquerda (algumas vezes ambas as mãos) é usada como a mão-espada - erguida acima da cabeça e rapidamente trazida para baixo para arremessar o oponente.

Cada movimento do shiho-nage é ditado pela consciência de empregar a mão como uma espada. Isso também significa que a mão do oponente é considerada como o gume da espada. Embora nenhuma das partes esteja armada, a ação é tão intensa quanto seria se lâminas de fato estivessem sendo usadas. Naturalmente, shiho-nage envolve a concentração do ki para seu poder e eficiência, e a fluência do ki, oriunda do poder de respirar, é expressa integralmente através da mão - o gume - que faz o arremesso preciso e poderoso. Se o ki não estiver fluindo, o oponente não será facilmente arremesso.

Shiho-nage é considerado o alfa e o ômega das técnicas do aikidô. Isso se deve ao fato de que shiho-nage mais claramente concretiza o princípio da arte de manejar a espada. Esse é o exemplo eminente que revela a relação íntima entre o aikidô e a arte de manejar a espada.

Embora o aikidô seja basicamente uma arte desarmada, e o treinamento consista tipicamente de duas pessoas posicionadas frente a frente com as mão abertas, as aplicações das técnicas usando espada, faca, varas ou bastão também são encontradas. Nesse caso verifica-se o reverso de usar a mão como se fosse uma espada; as armas são usados e manipuladas não como se fosse uma espada; as armas são usadas e manipuladas não como objetos, mas como extensões do corpo.

O que foi citado anteriormente devia ser suficiente para mostrar a íntima relação entre o aikidô e a arte da manejar a espada. Mas isso não é o bastante para entender porque o Fundador incorporou a arte da espada ao desenvolvimento do aikidô. Além disso, deveríamos reconhecer inteiramente a genialidade do Fundador ao formular o aikidô, baseado no jiu-jitsu clássico e nos princípios da arte de manejar a espada, que eram ostensivamente diferentes na sua natureza. Sua originalidade não reside meramente em combinar os dois, mas em fundar uma nova forma de budô que trouxe à luz o melhor em ambos.

O desejo ardente do Fundador em estabelecer o aikidô foi manter vivo no mundo moderno o mais valioso legado do budô. Afim de realizar seu objetivo, ele transcendeu as diferenças da forma externa para captar a essência de cada arte marcial e trazê-la à vida em uma nova forma. A força motivadora foi sua intensa busca espiritual para descobrir uma filosofia vivificante o afirmadora da vida do budô. O resultado foi a transformação do coração do budô no coração do aikidô, o caminho da harmonia e do amor.

Do livro O espirito do Aikido by Kishomaru Ueshiba.