terça-feira, 18 de maio de 2010

CONTO TAOÍSTA



"No início, a criação. O céu e a terra.
Os dois se tocam formando o homem no meio do céu e da terra.
A natureza e todas as coisas, o todo unido e simbolizado pelo Tao.
O homem sai em busca do conhecimento.
Ele o conquista e traz para si, para o seu interior, e tudo que aprende ele devolve ao mundo, através de seus atos,
recebendo em troca a sabedoria.

O homem aprende e abre o seu coração.
E quando o coração está aberto, pleno de bondade e quietude, os pássaros vem cantar em seu jardim.
Parte em busca de novas fronteiras e nessa busca, procura os céus que generosamente lhe concedem mais sabedoria
que ele incorpora, e procura transmitir ao mundo.
Mas muitas coisas o mundo não compreende e o agride, ele se defende e retira todos os obstáculos de seu caminho.
Como a cegonha, ele limpa seus obstáculos e prossegue seu caminhar pelo mundo.

E se depara então próximo ao mar, senta à beira da praia e observa o fluir das ondas em seu contínuo ir e vir e compreende que sua vida se assemelha às ondas, em seu constante ciclo de ir e vir.

Se levanta e continua o seu caminho, a seguir, começa a observar os animais.
O homem que se julgava a maior e melhor obra da criação, inveja a liberdade do vôo das aves, mas para a conquista desta liberdade o homem deve sair para a luta e enfrentar os desafios da vida, lutando como um tigre na floresta.

Ao caminhar pela floresta o tigre não faz barulho, ele é silencioso, tão leve quanto o bater das asas de uma ave.
Assim deve ser o homem e sua caminhada pelo mundo. Caminhar sem fazer barulho algum, sem fazer alarde, viver sua vida com naturalidade estando sempre em profunda perfeição.

E assim continua seu caminho indo em todas as direções, buscando experiências diversas, andando, expandindo-se, interagindo com a natureza que o cerca.

Mas a vida do homem é muito turbulenta e ele baila frente às dificuldades. Ora se encontra no céu ora nas mais tortuosas e profundas dores da terra, mas quando se está no fundo o único caminho é para cima.

Então o homem volta-se para o céu e retorna à terra prosseguindo a sua jornada, almejando novos horizontes.

Neste momento ele se encontra no ponto importantíssimo de sua caminhada. Ele se depara com uma montanha, a montanha simboliza um grande obstáculo de cada um de nós que deve ser enfrentado.

O discípulo do Tai-Chi não fugirá da luta, jamais, Pois sabe que a montanha e todas as coisas que surgem no seu caminho, são elementos de aprendizado para sua experiência na terra. Libera sua força e ataca como um tigre e se defende como tigre, usa energia de seu interior e a expande.

Prossegue sua jornada lutando, estando sempre no limiar de situações aparentemente antagônicas.

O homem agradece este presente dos céus e regressa à terra. E nisso, surge um lago de águas calmas e brilhantes simbolizando um problema do interior do guerreiro, um problema espiritual, que não pode ser enfrentado com socos e pontapés.

O sábio, ao encontrar o lago, caminha com uma máxima suavidade por sobre as águas, tornando-se leve como o vento, leve como um espírito,
atravessando até chegar à sua margem e então ele olhará para o lago e para os novos horizontes.

Continua o seu caminhar, porém seus passos não são como de início, são mais belos e harmoniosos apreciando novas situações.
Até que o nosso caminhante se depara com o bruxo, o mago, a personificação do medo do desconhecido. O bruxo somente estará morto pela flecha da sabedoria, removendo o sentimento de terror e ignorância que caia na consciência dos homens.

Depois de ter enfrentado seus fantasmas, o nosso venerável guerreiro caminha guiado pela sua consciência e encontra o monge,
o mestre, o sábio, que aponta uma nova direção, mudando o seu rumo. Ele segue esta orientação tranqüilo. Porém, no terceiro passo, ele se depara com um abismo e decide saltar, retornar é o caminho dos covardes.

O nosso guerreiro se encontra no fundo do abismo envolto pela escuridão e como uma serpente ele rasteja pela lama do fundo do abismo
sem enxergar uma direção a seguir, rastejando; sujando-se de lama, ele percebe que, como uma serpente, deve levantar, erguer-se para avistar novos horizontes. Neste momento ocorre a morte do velho guerreiro e o nascimento de um novo homem que observa no horizonte distante uma luz e resolve ir na sua direção, porém percebe algo estranho, quanto mais ele caminha na sua direção mais ela se afasta.

Então ele pára e medita, e decide caminhar em direção oposta, caminhando para o seu interior.

Procurou tanto nas coisas externas e quando ele se volta para o seu interior ocorre a iluminação. A felicidade brota no seu ser e ele está livre para alçar o vôo, como uma gota de água no oceano que se evapora, cai com a chuva formando os rios; mas não há outro destino senão retornar ao grande oceano.

Liberto ele voa retornando ao lar, retornando ao grande Tao. E este homem já não sabe mais o que é o céu
nem a terra, pois ele e toda a natureza, tudo que está a sua volta são uma coisa só".

Wu San Dji Tao

sábado, 15 de maio de 2010

OS VERSOS DOURADOS DE PITÁGORAS


01. Honra em primeiro lugar os deuses imortais, como manda a lei.02. A seguir, reverencia o juramento que fizeste.03. Depois os heróis ilustres, cheios de bondade e luz.04. Homenageia, então, os espíritos terrestres e manifesta por eles o devido respeito.05. Honra em seguida a teus pais, e a todos os membros da tua família.06. Entre os outros, escolhe como amigo o mais sábio e virtuoso.07. Aproveita seus discursos suaves, e aprende com os atos dele que são úteis e virtuosos.08. Mas não afasta teu amigo por um pequeno erro.09. Porque o poder é limitado pela necessidade.10. Leva bem a sério o seguinte: Deves enfrentar e vencer as paixões.11. Primeiro a gula, depois a preguiça, a luxúria, e a raiva.12. Não faz junto com outros, nem sozinho, o que te dá vergonha.13. E, sobretudo, respeita a ti mesmo.14. Pratica a justiça com teus atos e com tuas palavras.15. E estabelece o hábito de nunca agir impensadamente.16. Mas lembra sempre um fato, o de que a morte virá a todos.17. E que as coisas boas do mundo são incertas, e assim como podem ser conquistadas, podem ser perdidas.18. Suporta com paciência e sem murmúrio a tua parte, seja qual for.19. Dos sofrimentos que o destino determinado pelos deuses lança sobre os seres humanos.20. Mas esforça-te por aliviar a tua dor no que for possível.21. E lembra que o destino não manda muitas desgraças aos bons.22. O que as pessoas pensam e dizem varia muito; agora é algo bom, em seguida é algo mau.23. Portanto, não aceita cegamente o que ouves, nem o rejeita de modo precipitado.24. Mas se forem ditas falsidades, retrocede suavemente e arma-te de paciência.25. Cumpre fielmente, em todas as ocasiões, o que te digo agora.26. Não deixa que ninguém, com palavras ou atos,27. Te leve a fazer ou dizer o que não é melhor para ti.28. Pensa e delibera antes de agir, para que não cometas ações tolas.29. Porque é próprio de um homem miserável agir e falar impensadamente.30. Mas faze aquilo que não te trará aflições mais tarde, e que não te causará arrependimento.31. Não faze nada que sejas incapaz de entender.32. Porém, aprende o que for necessário saber; deste modo, tua vida será feliz.33. Não esquece de modo algum a saúde do corpo.34. Mas dá a ele alimento com moderação, o exercício necessário e também repouso à tua mente.35. O que quero dizer com a palavra moderação é que os extremos devem ser evitados.36. Acostuma-te a uma vida decente e pura, sem luxúria.37. Evita todas as coisas que causarão inveja.38. E não comete exageros. Vive como alguém que sabe o que é honrado e decente.39. Não age movido pela cobiça ou avareza. É excelente usar a justa medida em todas estas coisas.40. Faze apenas as coisas que não podem ferir-te, e decide antes de fazê-las.41. Ao deitares, nunca deixe que o sono se aproxime dos teus olhos cansados,42. Enquanto não revisares com a tua consciência mais elevada todas as tuas ações do dia.43. Pergunta: "Em que errei? Em que agi corretamente? Que dever deixei de cumprir?"44. Recrimina-te pelos teus erros, alegra-te pelos acertos.45. Pratica integralmente todas estas recomendações. Medita bem nelas. Tu deves amá-las de todo o coração.46. São elas que te colocarão no caminho da Virtude Divina.47. Eu o juro por aquele que transmitiu às nossas almas o Quaternário Sagrado.48. Aquela fonte da natureza cuja evolução é eterna.49. Nunca começa uma tarefa antes de pedir a bênção e a ajuda dos Deuses.50. Quando fizeres de tudo isso um hábito,51. Conhecerás a natureza dos deuses imortais e dos homens,52. Verás até que ponto vai a diversidade entre os seres, e aquilo que os contém, e os mantém em unidade.53. Verás então, de acordo com a Justiça, que a substância do Universo é a mesma em todas as coisas.54. Deste modo não desejarás o que não deves desejar, e nada neste mundo será desconhecido de ti.55. Perceberás também que os homens lançam sobre si mesmos suas próprias desgraças, voluntariamente e por sua livre escolha.56. Como são infelizes! Não vêem, nem compreendem que o bem deles está ao seu lado.57. Poucos sabem como libertar-se dos seus sofrimentos.58. Este é o peso do destino que cega a humanidade.59. Os seres humanos andam em círculos, para lá e para cá, com sofrimentos intermináveis,60. Porque são acompanhados por uma companheira sombria, a desunião fatal entre eles, que os lança para cima e para baixo sem que percebam.61. Trata, discretamente, de nunca despertar desarmonia, mas foge dela!62. Oh Deus nosso Pai, livra a todos eles de sofrimentos tão grandes.63. Mostrando a cada um o Espírito que é seu guia.64. Porém, tu não deves ter medo, porque os homens pertencem a uma raça divina.65. E a natureza sagrada tudo revelará e mostrará a eles.66. Se ela comunicar a ti os teus segredos, colocarás em prática com facilidade todas as coisas que te recomendo.67. E ao curar a tua alma a libertarás de todos estes males e sofrimentos.68. Mas evita as comidas pouco recomendáveis para a purificação e a libertação da alma.69. Avalia bem todas as coisas,70. Buscando sempre guiar-te pela compreensão divina que tudo deveria orientar.71. Assim, quando abandonares teu corpo físico e te elevares no éter.72. Serás imortal e divino, terás a plenitude e não mais morrerás.

Tetraktys. Número sagrado e fundamental dos pitagóricos pelo qual juravam fidelida-de. Simboliza a unidade origem e principio, a dualidade das oposições e as complementari-dades e o triunfo da trindade, que finalmente se desprende no universo do quatro. 1 + 2 + 3 + 4 = 10, a unidade expandida na manifestação, = 1 + 0 = 1, o retorno à unidade de origem.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

MENS SANA IN CORPORE SANO


Mens sana in corpore sano ("uma mente sã num corpo são") é uma famosa citação latina, derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal. No contexto, a frase é parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida (tradução livre):

Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são.
Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte,
que ponha a longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza,
que suporte qualquer tipo de labores,
desconheça a ira, nada cobice e creia mais
nos labores selvagens de Hércules do que
nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental.
Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio;
Certamente, o único caminho de uma vida tranquila passa pela virtude.



orandum est ut sit mens sana in corpore sano.
fortem posce animum mortis terrore carentem,
qui spatium uitae extremum inter munera ponat
naturae, qui ferre queat quoscumque labores,
nesciat irasci, cupiat nihil et potiores
Herculis aerumnas credat saeuosque labores
et uenere et cenis et pluma Sardanapalli.
monstro quod ipse tibi possis dare; semita certe
tranquillae per uirtutem patet unica uitae.
(10.356-64)

sábado, 3 de abril de 2010

MEDITAÇÃO GASSHO


Gassho é um cumprimento usado em várias tradições budistas e em numerosas culturas por toda a Ásia. Significa saudação, solicitação, reverência, agradecimento, respeito…
Os praticantes de yoga também fazem o Gassho, dando-lhe o nome de Namastê, traduzindo-o para a expressão "O Deus em mim saúda o Deus em você”.

Nas tradições budistas é costume fazer o Gassho como uma forma de respeito ao próximo ao considerarmos que o próximo tem, dentro de si, o potencial para se tornar um buda e, por isso, é digno de respeito.

O Mestre Dogen Zenji, fundador da Escola Soto Zen, disse uma vez: “Enquanto houver reverências verdadeiras, o caminho de Buda não se deteriorá”. Ao fazermos reverências, nós integralmente prestamos respeito à virtude que tudo invade de sabedoria, que é o próprio Buda.
Esta posição é normalmente conhecida no Ocidente como posição de oração. Nas práticas do Reiki, consiste em colocar as mãos com as palmas unidas, junto ao chakra do coração, com os dedos polegares a tocarem o centro do peito, duma forma relaxada. Os olhos são fechados.
Antes de começar um tratamento, o praticante concentra a atenção no ponto onde ambos os dedos médios se tocam para ajudar a esquecer o mundo que o rodeia e servir de «fio condutor» da Luz da Energia Vital Universal.
A posição gassho é também utilizada como posição de meditação.

Para fazer esta meditação coloque-se numa posição confortável, com as mãos na posição Gassho e feche os olhos. Concentre o pensamento nas mãos e tente abstrair-se de todos os pensamentos que o envolvem. Durante a meditação observe apenas as imagens ou pensamentos que lhe surgem na mente sem fazer qualquer tipo de análise, simplesmente observe e não tente comandar a mente durante este processo. Caso sinta algum desconforto em estar com as mãos nesta posição, sem as desencostar eleve-as e depois volte a colocar na mesma posição. Tente manter a coluna direita sem se sentir incomodado.

quarta-feira, 31 de março de 2010

A ESSÊNCIA DE UMA ARTE MARCIAL -AIKIDO


O trem produzia um agudo som metálico, chacoalhando através dos subúrbios de Tóquio em uma sonolenta tarde de primavera. Nosso vagão estava relativamente vazio – algumas donas de casa com seus filhos, alguns idosos indo às compras. Fixei meu olhar nas monótonas casas e nas sebes empoeiradas.
Numa determinada estação, a porta se abriu e, de repente, a tranqüilidade da tarde foi destruída por um homem berrando violentamente incompreensíveis palavrões. O homem cambaleou para dentro de nosso vagão. Ele vestia roupas de operário; era grande, estava bêbado e sujo. Gritando, ele jogou-se bruscamente sobre uma mulher que carregava um bebê, fazendo com que ela caísse no colo de um casal idoso. Foi um milagre o bebê não ter se ferido.

Apavorado, o casal partiu na direção oposta, para o final do vagão. O operário mirou um chute nas costas de uma senhora idosa, mas não conseguiu atingi-la. Isso o deixou tão enfurecido que ele agarrou o cabo de metal do centro do vagão e tentou arrancá-lo de seu suporte. Eu pude notar que uma de suas mãos estava cortada e sangrando. O trem seguiu com os passageiros paralisados de medo. Eu permaneci em pé.

Na época eu era jovem, aproximadamente 20 anos atrás, e gozava de boa forma física. Eu mantinha constantes oito horas de treino em Aikido quase todos os dias, nos últimos 3 anos. Gostava de me lançar e lutar; eu me achava “durão”. O problema era que minhas habilidades marciais não haviam sido testadas em um real combate. Como estudante de Aikido, não nos era permitido lutar. “Aikido”, meu professor dizia incansavelmente, “é a arte da reconciliação com o Universo. Se você tentar dominar as pessoas, você já está vencido. Nós estudávamos com resolver conflito, e não como iniciá-los”.Eu ouvi essas palavras e realmente me esforçava. Cheguei a escolher um caminho mais logo para atravessar uma rua de forma a evitar os fliperamas com “punks” que se estendiam à volta das estações de trem. Meu autocontrole se elevava. Eu me sentia forte e abençoado. Em meu coração, entretanto, eu queria uma legítima oportunidade de salvar inocentes através da destruição de culpados.

“É isto!”, eu disse a mim mesmo. “Pessoas estão em perigo. Se não fizer algo rapidamente, alguém provavelmente sairá ferido”.

Vendo-me em pé, o bêbado visualizou sua chance de descarregar seu ódio. “Ah!”, ele gritou. “Um estrangeiro. Você precisa de uma lição sobre os hábitos Japoneses!”Apoiei-me levemente a uma laça suspensa do vagão e dei a ele um olhar de nojo e desprezo. Eu planejei tirá-lo de ação, mas ele havia feito o primeiro movimento. Eu o queria enfurecido, assim eu franzi meus lábios e joguei-lhe um insolente beijo. “Ok”, ele gritou. “Você vai aprender uma lição.” Ele ajeitou-se para uma investida em minha direção.


Um instante antes que ele pudesse se mover, alguém gritou. “Ei!”. O clima se rompeu. Eu recordo a estranha alegria e leveza desse momento – como se você e um amigo estivessem estado buscando insistentemente por alguma coisa e, de repente dessem de cara com ela. “Ei!”.Eu girei para minha esquerda, o bêbado girou para a sua direita. Ambos demos de cara com um pequeno senhor japonês. Ele deveria já estar na faixa dos setenta anos de idade, esse pequeno senhor, sentado ali imaculadamente em seu kimono. Ele não me notou, mas sorriu com prazer para o operário, com se ele fosse muito importante, o mais bem-vindo a compartilhar um segredo.“Venha cá”, disse o velho, acenando para o bêbado. “Venha e converse comigo”. Ele moveu sua mão levemente.

O grande homem o seguiu, como se estivesse atado a uma corda. Ele firmou seu pé agressivamente em frente ao velho e urrou acima do som das rodas. “Por que diabos devo falar com você?” ele perguntou, com os olhos brilhando de interesse. “Eu tenho bebido saquê”, o bêbado respondeu aos gritos, “e não é de sua conta!” Pingos de saliva saltavam.

“Oh, isto é maravilhoso”, disse o velho, “absolutamente maravilhoso!”. Sabe, eu também adoro saquê. Toda a noite, eu e minha esposa aquecemos uma pequena garrafa de saquê, levávamos para o jardim e sentamos em um velho banco de madeira. Nós observamos o sol se por e olhamos como nossa laranjeira está indo. Meu bisavô plantou aquela árvore, e nos preocupamos se ela se recuperará da chuva de granizo que tivemos no último inverno. Nossa árvore tem se saído melhor do que esperávamos, principalmente considerando o tipo de pobre solo. É gratificante observá-la enquanto tomamos nosso saquê e desfrutamos a noite – mesmo quando chove!”. Ele olhou para o operário, olhos brilhando.

Enquanto o bêbado se esforçava para acompanhar a conversa do outro, sua face se suavizava. Seus punhos vagarosamente cederam. “É, ele disse, “eu adoro laranjeiras também...” Sua voz balbuciou.“Sim”, o velho disse sorrindo. “Estou certo de que você tem uma esposa maravilhosa”.“Não”, respondeu o operário. “Minha esposa morreu”. Muito delicadamente, mexendo-se com o movimento do trem, o grande homem começou a soluçar. “Eu não tenho esposa, eu não tenho um lar, eu não tenho um emprego. Eu estou envergonhado.” Lágrimas rolavam por suas faces, um espasmo de desespero correu pelo seu corpo.

Agora era minha vez. Parado ali em minha bem-sustentada inocência juvenil, com o meu “torne esse mundo seguro pela democracia e com justiça”, de repente senti-me mais sujo do que ele.

Então o trem chegou à minha estação. As portas se abriram e eu pude ouvir o velho dizer solidariamente:

“Pois é, pois é, este realmente é um problema difícil. Sente-se aqui e conte-me a respeito.”

Virei minha cabeça para uma última olhada. O operário estava esparramado no assento, sua cabeça no colo do velho, que, levemente acariciava o sujo e embaraçado cabelo do operário.

Como o trem deu partida, sentei-me num banco da estação. O que eu quis fazer com os músculos havia sido realizado com palavras gentis. Eu tinha acabado de ver o Aikido em combate e a essência disso era o amor. Eu poderia ter praticado a arte com um espírito totalmente diferente. Levaria ainda muito tempo antes que eu pudesse falar sobre resolução de conflitos.

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Por Terry Dobson tradução de Roberta Provatti(Originalmente publicado em CONTEXTO no 4. Outono 1983. Paágina 35 Copyright 1983. 1997 pelo Context Institut)

sexta-feira, 19 de março de 2010

QI GONG DOS SONS


MÉTODO DO CORAÇÃO DOS SEIS SONS DE CURA

QI GONG DOS SONS

Desde que o som é um formulário ( trabalho – forma de conduzir – exercício) da energia, tem o seu valor não somente na arte e na comunicação, mas também na aplicação médica. Os seis sons usados neste Qi Gong são a escolha facultativa para a escala natural humana da voz.
Uma vez que a ressonância é produzida pelos sons do corpo, o praticante incorporará um estado psìquico que visa trazer ao consciente os sentimentos latentes do inconsciente, realçando a saúde e melhorando as funções corporais. É uma maneira original de ajustar a energia interna do órgão e para o desenvolvimento da força mental. Como qualquer outro mantra , os sons ou sopros que curam são um modo particular de emitir o sopro da expiração, correspondente a cada víscera.

HE
O Som HE (ou HA), é o sopro do coração e do intestino delgado. Está associado a língua e, útil no combate a doenças cardíacas, insônia , ulceração línguais e suores noturnos e, nas emoções como o ódio, a arrogância e a impaciência.

SI
Aos pulmões corresponde o sopro SI ( ou SS) , com o seu uso útil em caso de problemas de resfriados, tosses e congestão e, na emoção da tristeza.

HU
O sopro HU corresponde ao baço e ao estômago.Está associado a boca e no combate a problemas digestivos, ulcerações bucais, atrofia muscular e distúrbios mestruais, atuando ainda nas emoções relativas as preocupações e ansiedades.

XU
Ao fígado e a vesícula biliar, o sopro XU ( ou SHU ).Está associado aos olhos e ao combate de seus problemas, bem como a anorexia e vertigem e, nas emoções da raiva e do ciúme .

CHUI
O som CHUI ( ou FU) , está associado aos rins e bexiga.Atua nos problemas do ouvido e promove um aumento da energia vital, pés frios, tonturas e falta de energia sexual e, na emoção do medo.

XI
E, finalmente o último dos seis sons que curam, o sopro XI , corresponde ao triplo aquecedor que na antiga medicina chinesas acreditava-se ser um órgão. Entretanto, corresponde aos 3 centros de energia, ou seje , a todo o corpo. É usado para regularizar o fluxo da energia do corpo de modo geral, combatendo problemas de garganta, distensão abdominal e insônia.

Na expiração, conforme o som emitido, diferentes músculos que correspondem a níveis diferentes do corpo se colocam em ação, prestando-se a cura de doenças das vísceras.
No Qi Gong dos sons, para o tratamento da saúde, os sons podem ser audíveis ou não, devendo-se de acordo com a prática taoísta tradicional se expirar seis vezes usando a boca para formar um som diferente a cada vez. A respiração deve ser profunda, lenta e suave, de modo que o ar encha o abdome, dirigindo a energia ao campo do cinábrio inferior( dan tien inferior) e não ao tórax.
A Filosofia, Medicina Tradicional e as Artes Marciais, na China, atuam sempre em conjunto.
Na própria Filosofia Chinesa, embora LAO TZU (600 a.C.), provável autor integral ou parcialmente dos 81 aforismos ( poemas) que formam O Livro do Caminho Perfeito, o TAO TE KING, não tenha citado nenhuma técnica destes exercícios, transcreveu ele os sons FU e SHI, que posteriormente, se tornaram a base de um sistema de sons de uma respiração terapêutica aplicados por um discípulo de seus descendentes, CHUANG TZU (300 aC.): FU, SHU, HU e SHI – assoprando e respirando com a boca aberta; inspirando e expirando o ar – expirando o velho e absorvendo o novo.
Chuan Tzu contribuiu para o desenvolvimento do TAO YIN (Daoyin) , aonde Tao = respiração dirigida e Yin = movimentos flexíveis e uniformes de expansão e contração que tornam o corpo mais dócil, a mais antiga forma de Qi Gong.

O Método do Coração dos Seis Sons de cura, o Qi Gong dos Sons, deve ao ser exercitado, ser repetido de três a seis vezes cada som.
No uso de sua intenção , absorva a respiração, dirigindo-a à região ou órgão a ser tratado e, ao expirar, exale as toxinas e as emoções negativas correspondentes e presentes na órgão trabalhado.

Nas práticas de Yôga Taoísta exercitamos diariamente o Qi Gong dos Sons.

Por Rômulo Pimenta

domingo, 14 de março de 2010

PALAVRAS DE BUDA



“Saiba que todas as coisas são assim:
Uma miragem, um castelo de nuvens,
Um sonho, uma aparição,
Sem essência mas com qualidades que podem ser vistas.

Saiba que todas as coisas são assim:
Como a lua num céu brilhante
Em algum claro lago refletida,
Ainda que para aquele lago a lua jamais se moveu.

Saiba que todas as coisas são assim:
Como um eco que provém
Da música, sons e lamentos,
Embora nesse eco não haja melodia.

Saiba que todas as coisas são assim:
Como um mágico que fabrica ilusões
De cavalos, bois, carroças e outras coisas,
Nada é como parece.”

quarta-feira, 10 de março de 2010

QI GONG TRADICIONAL


QI GONG TRADICIONAL
A ARTE DA CURA PELAS MÃOS

No nosso cotidiano, estamos constantemente expostos às influências do meio externo (fatores climàticos, alimentação poluição, etc) e do meio interno (emoções como medo, raiva, preocupação, etc), gerando em nòs desequilìbrios energèticos que se manifestam no nìvel psìquico como stress, insônia, fobias ansiedade e no fìsico como dores crônicas, infecções, doenças degenerativas.

Estes desequilìbrios são as maneiras que a Natureza encontra para nos indicar os Caminhos que nos levarão de volta ao estado de harmonia energètica a que chamamos SAÙDE.

Atravès das tècnicas do QI GONG TRADICIONAL, como a Acupuntura, o Qi Gong Medicinal, a Moxabustão, o Shiatsu, dentre outras, podemos reequilibrar nosso Campo Energètico, trabalhando à favor das indicações da Natureza, o que se traduzirà por uma maior harmonia nos planos fìsico e psìquico, restaurando e resgatando nossa saùde e qualidade de vida.

Os efeitos do QI GONG TRADICIONAL são notàveis, podendo-se perceber apòs um perìodo relativamente curto uma melhora do tônus muscular, da circulação sanguìnea, sono reparador, estado mental sereno e uma maior resistência às doenças, ou seja, um excelente mètodo de preservação da saùde.

O TERAPÊUTA:

Rômulo Pimenta é Terapeuta Oriental e Instrutor de Yôga Taoísta e Iaido.
Bacharel em Odontologia, possui formação em Acupuntura, Moxabustão, Massoterapia Oriental (Shiatsu e Tuei-ná), Qi Gong e Filosofia Tradicional.


LOCAL DE ATENDIMENTO:

Núcleo ArteSana

Informações:
artesana@oi.com.br
(31)3462-7921

terça-feira, 9 de março de 2010

YÔGA TAOÌSTA



YÔGA TAOÌSTA
PRÀTICAS ENERGÈTICAS CHINESAS PARA
A SAÙDE E A LONGEVIDADE

O Yôga Taoìsta faz parte da tradição milenar chinesa de trabalhos fìsico-energèticos para ampliação da Consciência, preservação da saùde e da longevidade.
O Yôga Taoìsta è composta por exercìcios de respiração, alongamentos, canalização de energia, meditacões, integração Mente-Corpo, abertura dos canais energèticos, trabalho sobre os Centros de energia, forma bàsica do Tai Chi Chuan, etc.
Estes exercícios são considerados, com razão, como uma via eficaz que permite conservar a saúde, restaurar o equilíbrio emocional, fortalecer o sistema imunológico, aumentando a vitalidade do ser humano.
Para além de exercício e terapia, o Yôga Taoìsta é uma autêntica filosofia de vida, fundamentada nos princìpios do Taoìsmo Tradicional, que poderá ser aplicado no dia a dia.
Os efeitos do Yôga Taoìsta são notàveis, podendo-se perceber apòs um perìodo relativamente curto de pràtica uma melhora do tônus muscular, da circulação sanguìnea, sono reparador, estado mental sereno e uma maior resistência às doenças, ou seja, um excelente mètodo de preservação da saùde.
Os seus principais objetivos são a tranquilidade, a harmonização do corpo e do espírito com tudo o que nos rodeia, quer seja a natureza, a sociedade, os indivíduos, com o fim de obtermos uma calma e paz de espìrito interior que nos permitirá viver mais felizes.

O INSTRUTOR:

Rômulo Pimenta é Terapeuta Oriental e Instrutor de Nei Gong Fu e Iaido.
Bacharel em Odontologia, possui formação em Acupuntura, Moxabustão, Massoterapia Oriental (Shiatsu e Tuei-ná), Qi Gong e Filosofia Tradicional.



LOCAL DE PRÁTICA:

Núcleo Arte Sana
Caiçaras - BH

INFORMAÇÕES
(31) 3462-7921
artesana@oi.com.br

HAGAKURE


“Existe Algo para ser aprendido com a tempestade.
Quando surpeendido por uma chuva você tenta não se molhar e corre rapidamente pela rua.
Mas, mesmo se escondendo nos beirais das casas, você ficará molhado.
Se estiver plenamente consciente de tal situação desde o início, você não ficará incomodado,
Embora ainda fique ensopado.
Esta compreensão se aplica a Tudo.”

(Hagakure - Yamamoto Tsunetomo, 1659-1719)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

SHEN


“O ideograma de Shen tem um radical antigo Shi, que mostra o céu acima e as estrelas, o sol e a lua abaixo. Isso pode ser interpretado como os “sinais do céu”. Esses sinais do céu ou divinos conectam o homem com uma ordem celeste. Sinais que, recebidos e interpretados pelo homem, simbolizam seu espírito.

A seguir há o radical que simboliza duas mãos abertas que esticam uma linha, dando a ideia de expansão ou ainda de alguém que reza em relação a uma linha vertical (um eixo), lembrando-se de que o homem é um elemento entre o céu e a terra e que é, ao mesmo tempo, espectador e elemento ativo do Universo. Shen pode ser interpretado como aquele que cai dos céus e atravessa o corpo. Uma outra interpretação possível seria: as mãos que recebem a energia cósmica pela espinha dorsal (linha, eixo) e concentram-na em seu umbigo.

Ao juntar os dois elementos do ideograma, os sinais ou os poderes do céu (criadores), que se dirigem ao homem, e o homem que se dirige ao céu com suas mão abertas, faz-se, assim, um eixo de relação entre o céu e a terra. Um eixo vertical ou uma comunicação entre o céu e a terra que é feita pelo homem. Pode-se extrapolar o “céu e a terra” para o alto e o baixo, a mente e o corpo, o espírito e a matéria. Isso é Shen.

A dinâmica de conexão entre o céu e a terra, tão bem expressada no ideograma Shen, pode ser vivida na experiência da meditação, em que a coluna se torna o eixo vertical, que recebe e circula energia e as mãos são mantidas laterais, simbolizando a captação da energia celeste.”

Fonte: Psique e Medicina Tradicional Chinesa – Campiglia, Helena: Roca, 2004

O Samurai e o Mestre Zen


Certa vez, no Japão, existiam dois garotos que brin
cavam juntos todo o tempo. Um era filho de um gran
de Samurai e estava sendo treinado para a carreira
militar. O outro era filho de um serviçal, mas se interessava
muito por filosofia.
O inevitável veio a acontecer: um foi enviado a um
Dojo para aprender as artes da guerra e o outro se retirou
em um templo Zen naquela região.
Correram rápidos os anos e o jovem Samurai, então
homem feito, vestiu-se com sua armadura e suas espadas e
foi procurar seu grande amigo no templo. Ao abrir a porta,
ele deparou com seu amigo vestido com um simples hábito
e de cabeça raspada. Seu sorriso era franco e seu olhar,
muito profundo. O Samurai tomou a palavra:
- Caro amigo, estou a caminho de uma grande guerra
onde conquistarei muitas glórias. Gostaria de ter sua bênção.
O Monge olhou-o nos olhos e disse:
- A guerra e as armas nada trazem. Todavia darei a
minha bênção a você com uma condição: se me derrotar
em um combate com espadas.
O Samurai riu e disse;
- O que me propõe é loucura! Você nunca segurou
uma arma antes! Mas está bem. Não fugirei a um desafio.
Mas se me vencer, rasparei a cabeça e me tornarei monge!
O Samurai armou-se com um bokken finamente lavrado
em madeira de lei e o monge pegou um galho de
árvore que havia por ali.
Iniciou-se o combate. O Samurai, lançando um grito
aterrador, atacou com toda a sua fúria. O Monge, sorrindo,
esquivou-se rapidamente e desviou o golpe. O Samurai,
surpreso, atacou novamente com o melhor golpe que conhecia:
uma técnica considerada secreta em uma escola
muito famosa. O monge não apenas desviou o golpe como
desarmou o Samurai e parou seu galho de árvore a centímetros
de seu rosto. Indefeso, o Samurai reconheceu sua
derrota.
Imediatamente o monge chamou os serviçais para
que raspassem a cabeça do Samurai. Antes que começassem
o serviço, ele perguntou:
- Como você me venceu sem nada conhecer da arte
das armas?
O Monge sorriu:
- A Arte da Espada e o Zen levam ao mesmo caminho:
o autoconhecimento e a harmonia com o Universo.
Tanto faz praticar um quanto o outro, desde que se dedique
de coração. Um Mestre Zen é tão poderoso quanto um
Samurai.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

OS QUATRO INIMIGOS DO HOMEM DE CONHECIMENTO


- Um homem de conhecimento - disse Don Juan - é aquele que seguiu honestamente as dificuldades da aprendizagem; um homem que sem se precipitar ou hesitar, foi tão longe quanto pôde para desvendar os segredos da sabedoria.

- O que é preciso para se tornar um homem de conhecimento?

- O homem tem que desafiar e vencer seus quatro inimigos naturais. Um homem pode chamar-se um homem de conhecimento somente se for capaz de vencer seus quatro inimigos.

- Mas há algum requisito especial que o homem tenha de atender antes de lutar contra esses inimigos?

- Não. Qualquer pessoa pode tornar-se um homem de conhecimento; muitos poucos o conseguem realmente, mas isto é natural. Os inimigos que um indivíduo encontra no caminho do saber para tornar-se um homem de conhecimento são realmente formidáveis; a maioria dos homens sucumbe a eles...

Quando eu estava me preparando para partir, tornei a lhe perguntar acerca dos inimigos do homem de conhecimento. Argumentei que ia passar algum tempo sem voltar, e que seria uma boa idéia escrever as coisas que ele tivesse a dizer e pensar a respeito enquanto estivesse fora. Hesitou um pouco, mas depois começou a falar.

- Quando um homem começa a aprender, ele nunca sabe muito claramente quais são seus objetivos. Seu propósito é falho; sua intenção, vaga. Espera recompensas que nunca se materializarão, pois não conhece nada das dificuldades da aprendizagem. Devagar ele começa a aprender... a princípio, pouco a pouco, e depois em porções grandes. E logo seus pensamentos entram em choque. O que aprende nunca é o que ele imaginava, de modo que começa a ter medo.


Aprender nunca é o que se espera.


Cada passo da aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem sente começa a crescer impiedosamente, sem ceder. Seu propósito torna-se uma batalha. "E assim ele depara com o primeiro de seus inimigos naturais: o medo! Um inimigo terrível, traiçoeiro, e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando, à espreita. E se o homem, apavorado com sua presença, foge, seu inimigo terá posto um fim à sua busca."

- O que acontece com o homem se ele fugir com medo?

- Nada acontece a não ser que ele nunca aprenderá. Nunca se tornará um homem de conhecimento. Talvez se torne um tirano, ou um pobre homem apavorado e inofensivo; de qualquer forma, será um homem vencido. Seu primeiro inimigo terá posto fim a seus desejos.

- E o que pode ele fazer para vencer o medo?

- A resposta é muito simples. Não deve fugir. Deve desafiar o medo, e, a despeito dele, deve dar o passo seguinte na aprendizagem, e o seguinte, e o seguinte. Deve ter medo, plenamente, e no entanto não deve parar. É esta a regra! E o momento chegará em que seu primeiro inimigo recua. O homem começa a sentir seguro de si. Seu propósito torna-se mais forte. Aprender não é mais uma tarefa aterradora. Quando chega esse momento feliz, o homem pode dizer sem hesitar que derrotou seu primeiro inimgo natural.

- Isso acontece de uma vez, Don Juan, ou aos poucos?

- Acontece aos poucos, e no entanto o medo é vencido de repente e depressa.

- Mas o homem não terá medo outra vez, se lhe acontecer alguma coisa nova?

- Não. Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele o resto da vida, porque, em vez do medo, ele adquiriu clareza... uma clareza de espírito que apaga o medo. Então, o homem já conhece seus desejos; sabe como satisfazê-los. Pode antecipar os novos passos na aprendizagem e uma clareza viva cerca tudo. O homem sente que nada lhe oculta. "E assim ele encontra seu segundo inimigo: a clareza! Essa clareza de espírito, que é tão difícil de obter, elimina o medo, mas também cega. Obriga o homem a nunca duvidar de si. Dá-lhe a segurança de que ele pode fazer o que bem entender, pois ele vê tudo claramente. E ele é corajoso, porque é claro; e não para diante de nada, porque é claro. Mas tudo isso é um engano; é como uma coisa incompleta. Se o homem sucumbir a esse poder de faz de conta, terá sucumbido ao seu segundo inimigo e tateará com a aprendizagem. Vai precipitar-se quando devia ser paciente, ou vai ser paciente quando devia precipitar-se. E taterá com a aprendizagem até ser incapaz de aprender qualquer coisa mais."

- O que acontece com um homem que é derrotado assim, Don Juan? Ele morre por isso?

- Não, não morre. Seu inimigo acaba de impedi-lo de se tornar um homem de conhecimento; em vez disso, o homem pode tornar-se um guerreiro valente, ou um palhaço. No entanto, a clareza, pela qual ele pagou tão caro, nunca mais se transformará de novo em trevas ou medo. Será claro enquanto viver, mas não aprenderá nem desejará mais nada.

- Mas o que tem de fazer para não ser vencido?

- Tem de fazer o que fez com o medo: tem de desafiar sua clareza e usá-la só para ver, e esperar com paciência e medir com cuidado antes de dar novos passos; deve pensar, acima de tudo, que sua clareza é quase um erro. E virá o momento em que ele compreenderá que sua clareza era só um ponto diante de sua vista. E assim ele terá vencido seu segundo inimigo, e estará numa posição em que nada mais poderá prejudicá-lo. Isso não será um engano. Não será um ponto diante de sua vista. Será o verdadeiro poder. "Ele saberá a essa altura que o poder que vem buscando há tanto tempo é seu, por fim. Pode fazer o que quiser com ele. Vê tudo o que está em volta. Mas também encontra seu terceiro inimigo: o poder! O poder é o mais forte de todos os inimigos. E, naturalmente, a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina estabelecendo regras, porque é um senhor. Um homem nesse estágio quase nem nota que seu terceiro inimigo se aproxima. E de repente, sem saber, certamente terá perdido a batalha. Seu inimigo o terá transformado em um homem cruel e caprichoso."

- E ele perderá o poder?

- Não, ele nunca perderá sua clareza e seu poder.

- Então, o que o distingue de um homem de conhecimento?

- Um homem que é derrotado pelo poder morre sem realmente saber manejá-lo. O poder é apenas uma carga em seu destino. Um homem desses não tem domínio sobre si, e não sabe quando ou como usar o poder.

- A derrota por algum desses inimigos é uma derrota final?

- Claro que é final. Uma vez que esses inimigos dominem o homem, não há nada que ele possa fazer.

- Será possível, por exemplo, que o homem derrotado pelo poder veja seu erro e se emende.

- Não. Uma vez que o homem cede, está liquidado.

- Mas se ele estiver temporariamente cego pelo poder, e depois o recusar?

- Isso significa que a batalha continua. Isso significa que ele ainda está tentando ser um homem de conhecimento. O indivíduo é derrotado quando não tenta mais e se abandona.

- Mas então Don Juan, é possível a um homem entregar-se ao medo durante anos, mas no fim vencê-lo?

- Não, isso não é verdade. Se ele ceder ao medo, nunca o vencerá, porque se desviará do conhecimento e nunca mais tentará. Mas se procurar aprender durante anos no meio de seu medo, acabará dominando-o, porque nunca se entregou realmente a ele.

- E como o homem pode vencer seu terceiro inimgo, Don Juan?

- Também tem de desafiá-lo propositadamente. Tem de vir a compreender que o poder que parece ter adquirido na verdade nunca é seu. Deve controlar-se em todas as ocasiões, tratando com cuidado e lealdade tudo o que aprendeu. Se conseguir ver que a clareza e o poder, sem controle, são piores do que os erros, ele chegará a um ponto em que está tudo controlado. Então, saberá quando e como usar seu poder. E assim terá derrotado seu terceiro inimigo. "O homem estará, então, no fim de sua jornada do saber, e quase sem perceber, encontrará seu último inimigo: a velhice! Este inimigo é o mais cruel de todos, o único que ele não conseguirá derrotar completamente, mas apenas afastar. É o momento em que o homem não tem mais receios, não tem mais impaciências de clareza de espírito... um momento em que todo seu poder está controlado, mas também um momento em que ele sente um desejo irresistível de descansar. Se ele ceder completamente a seu desejo de se deitar e esquecer, se ele se afundar na fadiga, terá perdido a última batalha, e seu inimigo o reduzirá a uma criatura velha e débil. Seu desejo de se retirar dominará toda sua clareza, seu poder e sabedoria. Mas se o homem sacode sua fadiga e vive seu destino completamente, então poderá ser chamado de um homem de conhecimento, nem que seja no breve momento em que ele consegue lutar contra seu último inimigo invencível. Esse momento de clareza, de poder e conhecimento é o suficiente."


Trecho do livro "A Erva do Diabo" - (Don Juan / Carlos Castaneda) - 8 de abril de 1962

MEDITAÇÃO




Meditação é aventura, a maior aventura que a mente humana pode empreender. Meditação é simplesmente ser, sem fazer nada - nenhuma ação, nenhum pensamento, nenhuma emoção. Você apenas é, e é puro prazer. De onde vem esse profundo prazer, quando você não está fazendo nada? Não vem de lugar nenhum, ou vem de toda parte. Ele é não-motivado, porque a existência é feita de uma matéria chamada alegria.

Quando você não está fazendo absolutamente nada - corporalmente, mentalmente, em nenhum nível - quando toda a atividade cessou e você simplesmente é, apenas sendo, isso é meditação. Você não pode fazê-la, você não pode praticá-la: você tem apenas que compreendê-la.

Sempre que você encontrar tempo para apenas ser, abandone todo o fazer. Pensar também é um fazer, concentração também é um fazer, contemplação também é um fazer. Mesmo que apenas por um único momento você fique sem fazer nada, simplesmente permanecendo no seu centro, totalmente relaxado - isso é meditação. E uma vez que você tenha descoberto o jeito, você pode permanecer nesse estado tanto tempo quanto quiser; finalmente você poderá permanecer nesse estado durante as vinte e quatro horas do dia.

Uma vez que você se tomou consciente de como seu ser pode permanecer imperturbado, então, vagarosamente, você pode começar a fazer coisas, mantendo-se alerta para que seu ser não se agite. Essa é a segunda parte da meditação - primeiro, aprender simplesmente a ser, e então aprender pequenas ações: limpar o chão, tomar um banho, mas permanecendo centrado. Então você poderá fazer coisas mais complicadas.

Por exemplo, eu estou falando com você, mas a minha meditação não é perturbada. Eu posso continuar falando, mas lá no meu centro não há nem sequer uma pequena ondulação; ele está absolutamente silencioso, completamente silencioso.

Assim, a meditação não é contra a ação. Não é que você tenha que escapar da vida. Ela simplesmente lhe ensina uma nova maneira de vida: você se toma o centro do ciclone.

A sua vida continua, continua de uma maneira muito mais intensa - com mais alegria, com mais claridade, mais visão, mais criatividade - todavia você está distanciado, apenas um observador nas colinas, simplesmente assistindo o que está acontecendo ao seu redor.

Você não é o que faz, você é o observador.

Esse é todo o segredo da meditação, você se toma o observador. O fazer continua em seu próprio nível, não há nenhum problema: cortar madeira, tirar água do poço. Você pode fazer coisas pequenas e coisas grandes; só uma coisa não é permitida, e isso significa: seu centramento não pode se perder.

Essa consciência, esse estado de observação deve permanecer absolutamente desanuviado, imperturbado.

No judaísmo há uma escola de mistério rebelde chamada hassidismo. Seu fundador, Baal Shen, foi um ser raro. No meio da noite ele estava voltando do rio - essa era sua rotina, porque no rio, à noite, tudo era absolutamente calmo e tranqüilo. E ele costumava simplesmente sentar-se lá, fazendo nada - apenas observando seu próprio eu, observando o observador. Nessa noite, quando estava voltando, ele passou pela casa de um homem rico e o vigia estava lá em pé perto da porta.

E o vigia estava intrigado, porque toda noite, exatamente àquela hora, esse homem estava voltando. Ele saiu e disse: "Desculpe-me interrompê-lo, mas não consigo mais conter a minha curiosidade. Você me persegue dia e noite, todos os dias. Qual é a sua ocupação? Por que você vai ao rio? Muitas vezes eu o segui e não há nada - você simplesmente senta-se lá, por horas, e no meio da noite você volta."

Baal Shem disse: "Eu sei que você me seguiu muitas vezes, porque a noite é tão silenciosa, que eu posso ouvir seus passos. E eu sei que todo dia você está escondido atrás do portão. Mas não é apenas você que está curioso a meu respeito; eu também estou curioso a respeito de você. Qual, é a sua ocupação?"

Ele disse. "Minha ocupação? Eu sou um simples vigia."

Baal Shem disse: "Meu Deus, você me deu a palavra-chave. Esta é a minha ocupação também!"

O vigia disse: "Mas eu não compreendo. Se você é um vigia, você deveria estar vigiando alguma casa, algum palácio. O que você está vigiando lá, sentado na areia?

Baal Shem disse: "Há uma pequena diferença - você está alerta em relação a alguém do lado de fora que poderia entrar no palácio; eu simplesmente observo este observador. Quem é este observador? Este é o espaço de toda a minha vida; eu observo a mim mesmo."

O vigia disse: "Mas essa é uma ocupação estranha. Quem é que vai lhe pagar?"

Ele disse: "É uma bênção tão grande, uma tal alegria, uma bem-aventurança tão imensa, que isso se paga a si mesmo em profundidade. Apenas um único momento, e todos os tesouros não são nada em comparação a ele"

O vigia disse: Isso é estranho. Eu tenho estado observando durante toda a minha vida. Eu nunca me deparei com uma experiência tão bonita. Amanhã à noite eu irei com você. Você apenas me ensina. Porque eu sei como observar - parece que apenas é necessário uma direção diferente: você está observando numa direção diferente."

Há apenas um passo, e este passo é de direção, de dimensão. Ou podemos estar focados no exterior, ou podemos fechar os olhos para o exterior e deixar toda a nossa consciência ficar centrada para dentro.- e você saberá, porque você é um conhecedor, você é consciência. Você nunca a perdeu. Você simplesmente deixou sua consciência se emaranhar em mil e uma coisas. Retire sua consciência de todos os lugares e apenas deixe-a descansar dentro de você, e você chegou em casa.

O âmago essencial, o espírito da meditação, é aprender como testemunhar.

Uma gralha cantando... você está ouvindo. São dois elementos: objeto e sujeito. Mas você não pode ver uma testemunha que está vendo ambos? - A gralha, o ouvinte, e ainda há alguém que está observando ambos. É um fenômeno tão simples!

Você está vendo uma árvore: você está aí, a árvore está aí, mas será que você não pode encontrar alguma coisa mais? - que você está vendo a árvore e que há uma testemunha em você que está vendo você vendo a árvore.

Observação é meditação. O que você observa é irrelevante. Você pode observar as árvores, pode observar o rio, pode observar as nuvens, pode observar as crianças brincando. Observação é meditação. O que você observa não é a questão; o objeto não é a questão.

A qualidade da observação, a qualidade de estar consciente, alerta - é isso o que é meditação.

Lembre-se de uma coisa: meditação significa consciência. O que quer que você faça com consciência é meditação. A ação não é a questão, mas a qualidade que você traz para a ação. O caminhar pode ser uma meditação, se você caminha alerta. Sentar-se pode ser uma meditação, se você senta-se alerta. Ouvir os pássaros pode ser uma meditação, se você ouve com consciência. Simplesmente ouvir o barulho interior da sua mente pode ser uma meditação, se você permanece alerta e observador.

A questão toda se resume em não mover-se adormecido. Então o que quer que você faça é meditação.

O primeiro passo para a consciência é tomar-se muito atento ao seu corpo. Pouco a pouco, a pessoa vai se tomando alerta para cada gesto, cada movimento. E, à medida que você vai se tomando consciente, um milagre começa a acontecer: muitas coisas que você costumava fazer antes, simplesmente desaparecem; seu corpo se torna mais relaxado, seu corpo se torna mais harmonizado. Uma paz profunda começa a prevalecer até mesmo no seu corpo, uma música sutil pulsa em seu corpo.

Então, comece a se tomar consciente de seus pensamentos; o mesmo tem que ser feito com os pensamentos. Eles são mais sutis do que o corpo e, naturalmente, mais perigosos também. E quando você se toma consciente de seus pensamentos, você fica surpreso com o que se passa dentro de você. Se você anotar o que quer que passe em sua mente em qualquer momento, você nem pode imaginar que grande surpresa o espera.

Você não acreditará que tudo isso está se passando dentro de você.

E depois de dez minutos leia - você verá a mente louca que existe dentro de você! Porque você não está alerta, toda esta loucura continua movendo-se como uma corrente subterrânea. Ela afeta o que quer que você esteja fazendo, afeta o que quer que você não esteja fazendo; afeta tudo. E a soma total vai ser a sua vida!. Assim sendo, esse homem louco tem que ser transformado. E o milagre da consciência é que você não precisa fazer nada exceto apenas tomar-se alerta.

O próprio fenômeno de observar a mente, a transforma. Pouco a pouco o homem louco desaparece, pouco a pouco os pensamentos começam a cair em um certo padrão; seu caos não existe mais, eles se tomam mais como um cosmo. E então, novamente, prevalece uma profunda paz. E quando seu corpo e sua mente estiverem em paz, você verá que eles estão sintonizados um com o outro, há uma ponte. Agora eles não se movem em direções diferentes, eles não estão galopando em cavalos diferentes. Pela primeira vez há acordo, e esse acordo ajuda tremendamente a trabalhar o terceiro passo que é tomar-se consciente dos seus sentimentos, emoções, humores.

Esta é a camada mais sutil e a mais difícil, mas se você pode estar consciente dos pensamentos, então basta apenas mais um passo. Uma consciência um pouco mais intensa é necessária e você começa a refletir seus humores, suas emoções, seus sentimentos. Uma vez que você ganhou consciência em todos esses três passos, eles se juntam todos em um fenômeno. E quando todos esses três são um - funcionando juntos perfeitamente, zunindo juntos, você pode sentir a música de todos os três; eles se tomam uma orquestra - então o quarto, aquilo que você não pode fazer, acontece. Acontece por sua própria conta. E um presente do todo, é uma recompensa para aqueles que passaram por estes três.

OSHO

domingo, 24 de janeiro de 2010

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

...SALTO NO ABISMO ...


Já me dei ao poder que rege meu destino
E não me prendo a nada, para não ter nada a defender.
Não tenho pensamentos, por isso verei.
Não receio nada, por isso me lembrarei de mim mesmo.
Desprendido e a vontade, passarei como um jato pela águia para me tornar livre.

Carlos Castaneda - O Presente da Águia.